sábado, 24 de junho de 2017

OS LIMÕES DA VIDA E O DIA EM QUE ANDEI NUMA MEIA MARATONA

Três meses. Esse foi o tempo que treinei – muito irregularmente – para ir de meio paradona a uma meia maratona. A Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro/2017. É claro, então, que não tinha como estar adequadamente preparada. Mas fui assim mesmo, com a cara, a coragem e os meus fartos quilos extra.
Ao se aproximar a data da corrida, como de costume, fiquei pensando em alguém para dedicar a corrida e a medalha. Escolhi a Janet Sidy Donio – ou simplesmente Jan, minha amiga e companheira de trabalho voluntário no Terapia Cão Carinho. Uma pessoa que eu já admirava bastante e que ultimamente aprendi a admirar muito mais.
A Jan é uma profissional bem-sucedida que vive viajando a trabalho. Uma moça bonitona e cheia de vida, ativa, alegre, sensível, generosa. Do tipo que está sempre de bem com a vida e vai resolvendo problemas e vencendo obstáculos – pequenos ou grandes – sem fazer estardalhaço. E é exatamente assim que ela continua, agora que teve câncer de mama, foi operada e está passando por quimioterapia.

Dia desses, ela postou no Facebook umas fotos de tirar o fôlego – ela e uma amiga fazendo stand up paddle ao por-do-sol, em Fortaleza.

E uma foto dela na praia, olhando aquele entardecer lindo. Ela, de costas, absolutamente careca. Absolutamente linda.

E a descrição da postagem: fazendo do limão uma limonada.





(Foto da internet)
Eu acho que a Jan foi muito além de fazer uma limonada com os limões da vida. Ela faz – e distribui aos amigos – caipirinha, mousse, torta, bolo de limão, e sei lá o que mais de gostoso que o limão pode virar, quando se acrescentam ingredientes escolhidos com o coração. Esse deve ser um processo nem sempre fácil e muito menos divertido, mas fato é que a Jan adoça nossas vidas com os limões que a vida dá para ela.

Tentando me inspirar nesse exemplo, resolvi dedicar esta meia maratona à Jan. Sim, consciente de toda a minha falta de preparo.

x-x-x


Eu tinha acreditado na previsão do tempo que prometia uma manhã de temperatura amena e estava me sentindo muito bem no início da corrida. Por isso, puxei um ritmo acima do que vinha treinando ultimamente. Como sempre, a cada marca de km eu agradecia mentalmente aos meus treinadores, professores Alexandre de Andrade e Nelson Evêncio.  E depois, “falava” com a Jan: Tá aí, mais um quilômetro pra você!

Lá pelo km 4, apesar de estar correndo sem sofrer, comecei a desconfiar que a previsão teria errado grosseiramente, pois sentia muito calor. Quando caí na real que estava mesmo muito quente, já estava no km 15 e embora tenha feito uma corrida bem satisfatória para as minhas condições atuais, estava muito cansada e talvez um pouco desidratada.
Parei cerca de um minuto para tomar água e descansar e pensei que poderia retomar o ritmo. Meu papo com a “minha Jan interior” foi: ficar mal depois de uma sessão de quimio deve ser assim... Você acha que não vai aguentar, aí você para, descansa um pouco e em seguida retoma a vida, certo?
Errado. Comecei a correr, mas não deu para manter o ritmo. Em outras épocas, teria mantido um trote até voltar a me sentir melhor e acelerar de novo. Mas desta vez tinha um quê de conformismo: eu não estava mesmo preparada para muito mais do que 15 km. Escolhi, então, uma solução que nunca* antes tinha usado numa corrida: ANDEI.

(*Obs: esse "nunca" é quase verdade, porque no ano passado, durante a Maratona do Rio, andei uns 50 metros)

Eu me considerava uma ótima administradora de corridas – sempre consegui administrar meu ritmo de acordo com as condições do momento, minhas e externas. E me orgulhava de nunca ter andado numa prova de rua.

Mas desta vez foi bem assim: foda-se, vou andar mesmo. Afinal, eu não estou preparada mesmo. Desculpe, Jan... mas deve ter dias em que você faz isso também; dá uma andadinha porque correr fica difícil, né não? Aqueles dias em que os limões vêm um pouco mais azedos do que a média... ou talvez até meio amarguinhos...

(Foto: Foco Radical - editada)
Fui, então, alternando trote e caminhada até o final, falando com a minha Jan interior o tempo todo. Quando ficava muito difícil, eu me perguntava como a Jan contornava as situações mais complicadas e incertas na sua maratona particular contra o câncer. Ainda retomei o ritmo em mais dois quilômetros, o 18º e o 21º, e terminei correndo no meu limite.
Tudo isso deu um pouco menos de 2 horas e 35 minutos – o que não é nada brilhante para uma meia maratona. Talvez a Jan merecesse uma prova mais bem corrida e uma medalha mais decentemente conquistada. Mas foi uma experiência totalmente nova que me rendeu algumas observações:
  1. (É óbvio que) não se vai de meio paradona a meia maratona em três meses de treino indisciplinado.
  2. Andar, numa meia maratona, não mata ninguém. Muito pelo contrário, terminei bem viva e não tive dor nenhuma no dia seguinte (quero chamar isso de maturidade, hehehe).
  3. O limão e a corrida são mais legais quando, de alguma forma, são compartilhados com amigos. E os amigos, por sua vez, são os ingredientes que os tornam mais gostosos.

Por fim,.. Não é desmerecer uma amiga, dedicar uma medalha que eu fui buscar, a pé, por 21,100 km, seja correndo ou andando. Por isso, Jan, essa medalha é sua, com toda a minha admiração, respeito e gratidão.

4 comentários:

  1. A Janet nos incentiva com os limões e vc mostra o quanto devemos lidar com nossas adversidades - passageiras ou não - de maneira muito simples. Dois exemplos de como podemos levar a vida mais leve e no nosso ritmo. Bj

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    1. Vivian, existem adversidades que a gente mesma cria... como deixar de treinar e querer correr uma meia maratona... e outras que a vida impõe, como os limões da Jan. Seja qual for o caso, quanto menos conseguirmos piorar o que já está ruim, melhor para nós e pros outros, né? Essa é a ideia... Beijão pra você!

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  2. Isso é saber viver, compartilhando amor entre os amigos.
    Beijos Sunao e Janet

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    1. Valeu, Alexandre! Você é parte importante desse amor! Beijo!!

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